A rotina organizada possui um papel importante no desenvolvimento de todas as crianças. No caso das crianças com TEA, mais ainda! Sabemos que elas possuem uma grande tendência a se fixar em rotinas. Então podemos utilizar isso a favor da aprendizagem de habilidades. Vejamos como:
- Rotinas podem ajudar a criança a aprender auto-controle:
Com rotinas consistentes e estruturadas, as atividades que acontecem quase ao mesmo tempo e quase da mesma forma a cada dia, sabendo o que vai acontecer a seguir de cada atividade, proporciona conforto e uma sensação de segurança e estabilidade para as crianças. Quando as crianças sentem esta confiança, elas estão livres para fazer o seu “trabalho”, que é brincar, explorar e aprender.
Além disso, a rotina, ao permitir que a criança antecipe o que vai acontecer a seguir, permite que a criança construa um senso de controle. Ao mesmo tempo, isso limita a quantidade de “nãos” e correções de comportamento que os cuidadores precisam dar à criança. Por exemplo no ambiente escolar, “Eu sei que você quer um biscoito, Pedro, mas agora é o momento da roda musical. Primeiro a roda e depois a hora do lanche, combinado?!.”
Para auxiliar a criança com autismo a compreender e seguir sua rotina, uma estratégia produtiva é construir com ela um quadro de rotina visual, com imagens das atividades que serão realizadas no decorrer do dia da criança, na ordem de ocorrência. A criança pode ter uma rotina em casa e outra na escola!
- Rotinas apoiam as habilidades sociais das crianças:
Com o crescimento das crianças, elas entram em contato com mais pessoas e começam a aprender padrões e rotinas para a interação social. Saudações, despedidas, e conversação com os outros, são exemplos de interações rotineiras que ensinam habilidades sociais a crianças com TEA que possuem déficits nesse aspecto. Além disso, essas interações são também oportunidades de ajudar as crianças a desenvolverem habilidades de linguagem, por exemplo, Ana via sua mãe sempre dar bom dia ao porteiro ao saírem para a escola; com o passar do tempo e repetição da rotina, Ana começou a falar com o porteiro, dizendo toda manhã “Bom dia, João!”.
Os momentos de brincadeiras e as refeições são duas rotinas que podem ser muito sociais para as crianças e cuidadores, nas quais as crianças podem desenvolver habilidades sociais importantes, tais como troca de turno (de conversa ou ação em brincadeira), aprender a esperar, seguir comandos, etc.
- Rotinas podem ajudar as crianças a lidar com as transições:
Para algumas crianças com TEA, as transições entre as atividades pode ser um momento complicado. Acordar para a natação, indo da natação para o almoço, do almoço para a escola, da escola para casa da avó, depois para sua casa … e, especialmente, a transição para o momento de deitar na cama, pode ser um desafio. A rotina pode ajudar a tornar as transições mais facéis, pois a criança, ao saber o que a espera a seguir, já está preparada para a troca de atividade. Uma dica para facilitar a troca de atividades que ainda não fazem parte da rotina, é usar um temporizador (alarme), música ou um “aviso de 5 minutos” para preparar suas crianças para uma mudança na atividade.
Crianças com TEA costumam apresentar resistência a mudanças e novidades. Para minimizar a ansiedade que sentem é importante preparar a criança para a mudança, antecipando o que irá acontecer e explicando como serão as novas atividades. Isso possibilitará a criança se sentir mais segura.
- As rotinas são uma oportunidade importante para a aprendizagem:
As rotinas diárias são muitas vezes consideradas como apenas a atividades de “manutenção”: a hora da refeição, de sair/chegar da escola, tomar banho, se preparar para dormir. Mas essas ações cotidianas são ricas oportunidades para apoiar a aprendizagem e desenvolvimento da criança. As rotinas oferecem a oportunidade de construir a auto-confiança, curiosidade, habilidades sociais, auto-controle, habilidades de comunicação, e muito mais. Vamos pensar em um exemplo de compras no supermercado:
Maria e sua mãe estão rodando pelo supermercado. Maria apontou para as maçãs e sua mãe disse: “Olhe para as maçãs, temos as vermelhas e as verdes. Não parecem gostosas?” Ela segurou uma para fora para Maria tocar: “Sinta quão suave que elas são!”. Então a mãe pegou um saco de plástico e virou-se para Maria: “Por que você não me ajuda a escolher algumas para levar para casa?” Juntas, elas contaram cinco maçãs e colocaram na bolsa. Ana tentou o seu melhor para ajudar, mas aquelas maçãs eram difíceis de segurar! Levou as duas mãos para conseguir colocar uma no saco. “Bom trabalho!”, disse a mãe, “Obrigada pela ajuda.”
Neste exemplo, uma interação simples no supermercado abriu as portas para a prática de habilidades de linguagem, uso dos sentidos, e aprender sobre números e cores. Ela também forneceu uma oportunidade para cultivar a auto-confiança de Maria e sua auto-estima, pois a mãe mostrou que os interesses da criança foram importantes, bem como mostrou que a criança era capaz de fazer coisas importantes, ao permitir a Maria escolher e ensacar as maças.
As rotinas fornecem os dois ingredientes essenciais para a aprendizagem: relações e repetição. Então aproveite esses momentos “normais” com sua criança. Se ela está se divertindo com você, ela está aprendendo, também!